Suponhamos que a luz artificial perfeita seja um ajuste refinado entre uma incidência luminosa suficientemente direcional ( que gere sombras projetadas) mas suficientemente difusa para que tais sombras não sejam demasiado duras (muito negras, em altos contrastes). Nem tão difusa ao ponto de perder seu caráter direcional (como em um dia nublado e quase sem sombras), nem tão direcional ao ponto de produzir sombras dramaticamente oblíquas. Uma luz quase como a do sol. A melhor luz para mim (e para você) será uma luz como é a do sol no lugar onde você mais viveu.
Na fotografia e no cinema, o controle destas correlações (direção, intensidade e distância) pode ser obtido de diferentes maneiras. Na fotografia de estúdio, o caráter predominantemente estático do sujeito e o controle estrito do enquadramento permitem manter as fontes luminosas fora do campo visual do observador (definido pela abertura angular da câmera), mesmo que estas estejam fisicamente muito próximas destes ou tenham grandes dimensões. O que nào está enquadrado, não existe.Podemos portanto trabalhar com fontes difusas de grande tamanho e que gerem incidências suficientemente intensas e direcionais. Já no cinema, pela movimentação dos personagens durante a cena e também do próprio plano de câmera em movimento, tais artifícios são igualmente possíveis, porém com limitações muito maiores em relação ao número de planos de visualização a controlar para evitar a percepção das fontes de luz.
Em iluminação de arquitetura, também há, de certo modo, um enquadramento, que é demarcado pela abertura média do campo visual do observador comum: humano e bípede. Existem algumas estações de visualização principais e enquadramentos por obstrução, decorrentes da configuração do entorno, ou do própri espaço. Mais ainda do que na fotografia de estúdio, a Arquitetura é um sujeito estritamente estático - sequer sorrí.
Tal como no cinema, a câmera do olho também se move, porém aleatoriamente, sem story board e sem diretor. Portanto, são inúmeros os ângulos que devemos controlar para que o observador não possa visualizar as fontes emissoras de luz, pelo o menos não a ponto de ter sua percepção do objeto alterada. Ou que a magia se desfaça.
Tampouco a presença de tais fontes de luz no entorno da arquitetura deve ocupar indevidamente o primeiro plano visual, seja no espaço da cidade, seja quando inserida no espaço da própria arquitetura. Não podemos ignorar o peso de sua presença.
Isto nos impele sempre a buscar dissimular (onde a ocasião melhor se apresentar) fontes de luz cada vez mais discretas, menores e de caráter geralmente pontual, sendo bastante mais complexo gerir o equilíbrio entre a intensidade e a direção de emissão e a "dureza" das sombras produzidas.
Le Corbusier inventou a perspectiva com mais de um ponto de fuga. Na iluminação artificial de arquitetura, há mais sempre mais de um sol. Ambas são representações antinaturais que transcendem a realidade. Por isso mesmo têm seu próprio valor.
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